Música

Tárcis: Rapper, beatmaker e carioca

Em conversa com a Pista, o artista natural da zona norte do Rio fala sobre suas influências e seu próximo projeto.

Tárcis, MC carioca, trocou uma ideia com A Pista sobre seu EP “Cyber Yorubá 10062”, suas influências musicais e seu próximo álbum que deve sair ainda em 2021.

Até agora, o rapper e beatmaker nascido na zona norte do Rio tem três trabalhos lançados: “Maitê: Misticidades, Amores, Inspirações, teorias e expirações” (2018), “Canções Que Fiz para Você” (2019) e “CyberYorubá 10062” (2020) — um dos nossos projetos favoritos de 2020 e que incluímos na lista dos mais subestimados daquele ano.

Suas músicas são fortemente influenciadas, tanto tematicamente quanto sonoramente, pelas religiões de matriz africana — tradicionais no Brasil — além de também beber de fontes derivadas da música eletrônica como o drill e o grime — gêneros que tem ganhado maior protagonismo na cena atual com o próprio Tárcis e os seus companheiros do Covil da Bruxa: Leall, VND, pumapjl, TOKIODK e OG BRITTO.

Seu lançamento mais recente foi o clipe da música “O Show Tem Que Continuar”. O instrumental é de autoria do Tárcis e a direção do vídeo foi feita por Guilherme Santana.

Tárcis (Foto: Rafael Rodrigues — ilovemyanalog)

A Pista: Em que momento da sua vida você decidiu que queria fazer rap? Houve algum acontecimento-chave que o influenciou a se expressar por meio da música?

Tárcis: A música sempre fez parte da minha vida e o rap entrou naquele momento da adolescência que você está na encruzilhada da vida que não sabe o que fazer. Ele veio como uma porta de infinitas possibilidades, porque até então meu sonho era ter um grupo de pagode.

A Pista: Seu último EP “CyberYorubá 10062” foi um dos trabalhos mais originais do ano passado e um dos nossos favoritos. Como foi o processo de criação do projeto? Você já havia imaginado a identidade do disco antes de conceber cada faixa?

Tárcis: Pra falar a verdade eu não estava com nenhum projeto para 2020, eu queria só vender meu disco “Canções Que Fiz Para Você”. A ideia do EP veio depois de um comentário no meu episódio do BGS [Brasil Grime Show], aí acendeu uma luz na minha cabeça que me fez criar todo o enredo envolta do EP como o nome das faixas e a capa. Foi meu primeiro trabalho que eu realmente pensei legal pra fazer.

Capa do EP “CyberYorubá 10062” de Tárcis

A Pista: O “Covil da Bruxa”, sua banca, é uma das que mais chama atenção na cena atual. Como é o convívio com outros integrantes? Tem uma atmosfera de competição sadia para quem vai lançar o melhor som ou álbum?

Tárcis: A gente é como uma família, briga, ri, chora, fica bolado um com o outro. A competição existe, mas é quase nula porque cada um tem uma linha de pensamento que leva a públicos diferentes, mas a ideia é cada um fazer o seu melhor dentro daquilo que se propôs a fazer.

A Pista: Seus trabalhos costumam misturar influências musicais e temáticas de religiões de matrizes africanas com gêneros derivados da música eletrônica como o grime e o drill. Como você faz para conseguir mesclar essas duas sonoridades tão distintas entre si?

Tárcis: Foi fácil porque são sonoridades que eu tô acostumado a ouvir e falar das religiões de matriz africana é falar do Brasil também. E o drill e o grime por serem estilo musicais pretos, o grime por beber da fonte dos imigrantes africanos e jamaicanos se tornou muito funcional quando encaixei os temas e meu estilo de escrever.

A Pista: Qual foi o último disco que você ouviu e mais te impactou?

Tárcis: Sem puxar sardinha pro meu grupo, mas o “Naturalidades” do Puma foi o que mais me impactou, porque trouxe uma estética que estava faltando no rap do Rio. Aquele clima de praia e caos do centro.

A Pista: Para encerrar a entrevista, quais são seus próximos passos na carreira? Pretende lançar algo novo ainda em 2021?

Tárcis: Estou trabalhando no meu álbum que vai sair por meados de agosto se Deus quiser, mas tem som pra sair nos próximos meses só geral ficar bem esperto.

CyberYorubá 10062

O EP “CyberYorubá”, foi lançado por Tárcis em 2020 e possui seis músicas no total. A estética é futurista e tem influência tanto do house quanto do drill, ao mesmo tempo em que homenageia a ancestralidade africana em toda sua riqueza de espiritualidade e musicalidade. A maioria das faixas do trabalho foi produzida por Gabriel Luna, com exceção do som “MVP” — produzido pelo próprio Tárcis. O projeto conta com participações de Linus e Wilwin na penúltima track intitulada “House de um Futuro Perdido”.


Leia também:

Entrevista: O beatmaker SonoTWS fala sobre seu processo criativo e a cena do boom bap

Dro: uma conversa com o rapper e produtor sobre seu último EP

Grime no Brasil: O gênero em 4 projetos

#Balanço2020: projetos musicais mais subestimados do ano no Brasil

1 comentário

Deixe uma resposta